Roda de conversa reuniu famílias e educadoras da Catavento para dialogar sobre a cultura da velocidade e como podemos fazer escolhas de tempo que priorizem a convivência e a educação dos filhos.
De um lado, as ideias de ir devagar e com calma. Parar e pausar. De sentir e curtir a vida. Conviver. Desfrutar. Contemplar. Desacelerar. Respeitar os tempos de cada um e também os tempos da infância. De Cuidar. Brincar. Explorar e descobrir. Entrar em contato e em sintonia com a natureza.
De outro lado, sensações e relatos de angústia, preocupação, agenda lotada, frustração, falta de tempo para o que é importante e muito tempo dedicado às urgências do dia-a-dia e até culpa pelo ócio. Sensação de ter a vida guiada por valores relacionados ao produtivismo e à competitividade. Um excesso de estímulos provocado pelo uso excessivo das tecnologias, que nos leva à antecipação e à ansiedade, acompanhadas da percepção de que não conseguimos parar e pensar no que estamos fazendo e por que estamos fazendo. Cansaço. Exaustão.
No meio disso tudo, diálogo. Trocas. Conversa. Pais, mães e educadoras compartilhando experiências, inspirações e posturas práticas que podem contribuir para a construção de um caminho de equilíbrio para lidar com a pressa e a pressão de um “mundo lá fora” que o tempo todo nos convida a correr e a transferir esta aceleração para a relação com os nossos filhos. Consciência, ênfase nas escolhas, cuidado, carinho, sensibilidade, cooperação, convivência, olhar cuidadoso, atenção plena e presença.
Estas foram algumas das ideias que emergiram da primeira roda conversa deste ano na Escola Catavento. O encontro reuniu famílias e educadoras para discutir o tema “Educação, infância e pressa: por que corremos tanto? Como isso impacta a nossa relação com as crianças? E com a escola?”.
Ao final de algumas horas de diálogo, os presentes saíram da escola com a sensação de que é preciso buscar o equilíbrio nas escolhas de tempo; de que não existe uma espécie de “fórmula mágica” para isso; e de que é importante saber que encontramos, na escola, acolhimento e pessoas com quem podemos contar na busca por esta consciência e na prática de uma educação mais respeitosa com os tempos da infância, das relações humanas e da convivência. “Foi bom ver que tem outras pessoas pensando assim. Ainda é grande o trabalho para quebrar o paradigma, mas é bom saber que não estamos sozinhos”, afirma Nadia Helena Gonçalves Brandão, mãe do Erick, do G1.
Infância e tempo
“Eu vinha de um mundo em que pensava que tinha que buscar o melhor para o meu filho e que este melhor seria oferecer cursos e oportunidades profissionais para que ele se destacasse”, conta Nadia, que é profissional da área de Recursos Humanos há 10 anos. Ela conta que depois do nascimento de Erick, a sua relação com o tempo se transformou. “Os conceitos que vivi a vida toda perderam o sentido. Estou em um momento movido pela equação “como gerir meu tempo e dar mais significado para ele”? Toda esta questão do investimento profissional passou a ser uma constante briga com a certeza de que precisamos viver o agora e curtir a infância”, diz.
O reconhecimento do tempo de cada um como um esforço de conexão com os filhos foi um dos assuntos que marcou a roda de conversa. A educadora Shirley Lima, do Berçário 2, contou que seu filho mais velho estava vivendo uma fase conturbada por conta da suposta necessidade de fazer ainda muito jovem a escolha da carreira que iria seguir. “Quando conversamos em casa e ele percebeu que poderia ficar um tempo sem estudar e que não precisa entrar imediatamente em uma faculdade, ele passou até a dormir melhor”, relata.
A diretora da escola, Luciana Morelli, também tem um filho no ensino médio que vive esta pressão. “Tratamos de desconstruir a ideia de que ele precisa decidir isso agora, mas esse é um esforço cotidiano que exige muita energia. Sabemos que estamos nadando contra a corrente. Muitas vezes isso gera estranhamento de amigos e familiares. E sabemos, como educadoras, que muitas vezes esta pressão lá na ponta do ensino médio chega até a educação infantil”, aponta.
Marieli Monteiro, educadora do G3, conta que encontrou na Catavento uma força nesse sentido. “Já trabalhei em outras escolas e posso dizer que aqui não existe essa pressão. É bom encontrar um lugar onde podemos trabalhar com mais liberdade e deixar as criança fluírem. Sinto-me acolhida no que acredito para a educação infantil, que é brincar”, explica.
Esta é a pedra fundamental da Catavento: o brincar. “A educação acontece de forma fluida, por meio da diversão e da brincadeira. Em momento prazerosos e significativos. Não existe – na educação infantil – necessidade de acelerar. As crianças aprendem de forma livre, se relacionando entre elas, com os educadores e com a natureza”, explica a diretora Adelia Morelli.
Importância da comunidade
“É muito importante termos momentos como este, para afirmar estes valores e fazermos estas trocas. Gostei muito e espero que possamos construir outros para seguir trocando”, afirma Nadia.
A roda sobre tempo e pressa foi a primeira deste ano na escola.
Os encontros devem acontecer periodicamente.
O diálogo foi facilitado por Edu Cordeiro e Michelle Prazeres, pais do Francisco e idealizadores do Desacelera SP (http://www.desacelerasp.com.br), iniciativa conectada com o Movimento Slow, que busca construir a convivência afetiva em modos de vida mais desacelerados na cidade.
Caso você tenha alguma sugestão de tema a ser abordado nos próximos eventos, envie a sua sugestão para o email faleconosco@catavento.com.br com o assunto “RODA DE CONVERSA”.
Confira abaixo a galeria de imagens do encontro.
Registros de Nacho Lemus.
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