A criança em desenvolvimento é movimento e a escola é a rede de apoio, que oferece amparo, segurança e confiança para que este movimento possa acontecer livre, autônomo e em sua própria verdade. A professora de yoga e dança, Luciana Polloni, acredita que é primordial a educação ser construtiva, humana e individual, como é na Catavento.
Para ela, a educação infantil é um trabalho fundamental e não fica submerso em camadas profundas da nossa psique. “A educação que recebemos nesta fase está em cada ação de cada dia, de cada momento. Todo aprendizado é dissolvido nas células e experiências. A forma como olho para um objeto, sem saber, talvez tenha sido uma professora na educação infantil que me guiou para olhar desta maneira e eu acreditei nesse olhar, absorvi e registrei. Meu cérebro aprendeu a olhar assim; como falo, toco, sento, me comporto, escrevo… o que a gente aprende nessa fase está em todas as nossas ações, principalmente na fase adulta”.
Por isso, Luciana afirma que é preciso praticar o que se ensina. “A criança ouve, mas sobretudo ela vê. Isso não quer dizer que eu me policio para ser algo que eu quero que elas sejam, mas sim que eu mostro a minha verdade para elas se sentirem seguras para mostrarem a verdade delas e se expressarem, sabendo que elas têm uma rede de apoio”. Ela explica que está ali, como educadora, para guiar. “Para que elas sigam o rumo delas, com a rede de apoio ali embaixo. Sei que sou referência, mas também sei que elas são autônomas”, diz.
A professora acredita que o autoconhecimento promovido pelas aulas de yoga e dança podem ajudar as crianças a trilharem estes caminhos. “No yoga, existem as posturas que são como elas são e nós vamos adaptando. Não é o corpo (se encaixando) na postura. É a postura no corpo”. Já na dança, ela explica que não existe uma “coreografia” a ser seguida. “Se eu fizer o movimento, a criança vai me copiar. E a ideia é que cada uma tire o movimento de dentro de si. É um processo lúdico e criativo expressivo a partir da própria criação do movimento. A criança aprende a escutar o corpo, que fala o que precisamos fazer”, diz.
No yoga, a criança replica a postura a partir do que o corpo oferece. “Tenho um instrumento de trabalho, que é um baralho dos bichos. São cartas de bichos diferentes, em desenhos artísticos, fazendo posturas. As crianças olham o desenho e veem os bichos fazendo e fazem o que entenderam da carta. Não existe certo e errado. Estamos falando de expressão. Sempre com contexto, histórico e circuito, mas sempre com liberdade do corpo”, afirma Luciana.
E este processo respeita cada faixa etária e cada processo individual. “Quando a criança já tem 5 ou 6 anos, começo a fazer ajustes de alinhamento, colocando o pé para a frente, colocando atenção no joelho e no quadril. Mas o yoga para crianças é movimento. É muito raro pedir para elas permanência. Quando quero trabalhar a permanência, que elas fiquem em concentração, eu digo que vou tirar uma foto”, brinca a professora.
Trabalho de formiguinha
Luciana chegou na Catavento em meados de 2018. Ela lembra que o primeiro semestre de trabalho foi marcado por um reconhecimento: da equipe, da escola, do ambiente, das crianças. “Foi uma adaptação. Com o tempo, fui compreendendo as crianças, a escola, as famílias e vendo que era possível trabalhar com dança e yoga falando de expressão. E fui fazendo um trabalho para que elas trilhem um caminho de construir possibilidades de se expressar com seu corpo. Dança e yoga são linguagens e ferramentas de autoconhecimento. Em cada idade é diferente, mas é um trabalho de perceber que existe, que existe em um espaço e na relação com outras coisas e pessoas”, recorda Luciana.
Em 2019, ela fez um trabalho de percepção do corpo no contexto e de quem são as crianças nos contextos. Tudo com linguagem técnica, expressiva e contextualizada. Luciana ressalta a qualidade humana da escola como um dos fatores que proporcionam um trabalho consistente. “É uma escola muito humana. E isso acontece também, porque todos estão envolvidos. As famílias precisam acreditar e praticar isso. Quando isso acontece, tudo flui, porque a criança percebe uma coerência de todos os lados”.
Em 2020, a dança foi integrada de forma mais abrangente no projeto da Catavento e o projeto pedagógico da Escola foi “Criança, arte e movimento”.
Aí, veio a pandemia. “Os vídeos foram a maneira com que conseguimos manter o projeto. Fomos descobrindo caminhos para acessar as crianças. Comecei com vídeos para a escola toda, com uma linguagem mais universal. Em um certo momento, não funcionava mais. Comecei a fazer vídeos por turma e, depois de uns meses, um vídeo pessoal, individual, para cada criança”, recorda Luciana.
No retorno às aulas presenciais, foi preciso entender cada criança e cada contexto para avançar. “No primeiro semestre, fiz um trabalho de ‘movimentação básica de sobrevivência’, ajudando as crianças a voltarem a perceber o corpo quando sentam, caminham, saltam e giram. Já fizemos um resgate. Agora, o segundo semestre, vai ser bem legal!”, acredita Luciana.