Gustavo não tinha um plano. “Não tenho uma formação linear, não tive um projeto de pessoa que eu pudesse ser. Sempre toquei violão. Comecei com 12 anos na igreja e só depois comecei a tocar samba. Não era minha intenção ser profissional e viver disso, mas sempre gostei muito”, lembra o professor de musicalização da Catavento.
O gosto pela música o acompanhou em sua jornada, sempre presente. E a profissão “aconteceu”. Nascido em 1988, Gustavo foi adolescente no começo dos anos 2000, um período da História do país marcado por políticas públicas que democratizaram a educação superior. “Com o Prouni [Programa Universidade para Todos, do Ministério da Educação], fiz Relações Internacionais na PUC-SP. No período em que cursava a faculdade, para me manter e me custear, eu comecei a dar aula de violão, porque a bolsa era para o período vespertino e era difícil encontrar estágio”, recorda Gustavo.
O professor começou a dar aulas em Cotia, onde nasceu e morou até então. “As aulas foram virando e decidi que ia ser músico, mas ia terminar a faculdade, o que aconteceu em 2012, quando eu já ganhava algum dinheiro tocando e dando aula”, conta.
Ó do Forró
Gustavo se formou e continuou dando aula e tocando. Em 2014, entrou em um grupo de forró (Ó do Forró) e tocou com eles por dois anos. “Eu tocava cavaquinho e guitarra. A banda me mantinha, mas era uma rotina muito estressante. Eu dormia pouco, dormia mal, tocava na madrugada, viajava muito… aí eu saí da banda e precisava fazer algo que me ajudasse a ter mais possibilidades de trabalho”, relembra o professor.
Ele decidiu fazer uma pós-graduação em Canção popular (Faculdade Santa Marcelina) e logo depois uma amiga o indicou para uma vaga em uma escola. “Era para ser transitório. Eu queria dar aula por um tempo e voltar a tocar, mas terminou sendo minha grande escola de educação musical e onde eu descobri que queria trabalhar com isso”, explica.
Novos rumos
Gustavo casou e passou a morar na Zona Norte de São Paulo. O trabalho em Cotia ficou inviável por conta do deslocamento e do trânsito da cidade. Ele deu início a um movimento de transição para uma região mais próxima de onde vive. “Fiz uma lista de escolas com endereço próximo de onde eu estava e fui mandando currículo sem muita expectativa. Um dia, a Catavento me mandou uma mensagem me convidando para uma aula experimental”, lembra ele, acrescentando que a postura da Escola diante da situação já o fez compreender que se tratava de um lugar humano e respeitoso. “Elas me remuneraram pela aula experimental, o que deveria ser normal, mas não é comum”, relembra.
Gustavo conta que estava meio inseguro no dia da aula-teste, mas assim que a aula acabou, ele já estava contratado. “Comecei na temporada de férias de janeiro de 2020 e logo depois veio a pandemia”, lamenta. Ele elogia a postura da escola neste período, em esforço para manter os funcionários e seus salários. “A Direção também sempre valorizou o que a gente estava fazendo em casa. Era uma atividade totalmente nova. Tínhamos que gravar, editar, ter ideias… aprendemos juntos e experimentando, tendo feedback das famílias. Até que chegamos a um modelo de vídeos de entretenimento musical”, explica, saudando a postura da Escola no período “A Catavento sempre esteve aberta para acatar sugestões, mas também para falar, sugerir ou apontar coisas técnicas, dar estes retornos importantes”, diz.
Parceria e diálogo
Esta parceria é o que caracteriza a Catavento para Gustavo; e também a tônica da Educação. “A educação é uma construção conjunta. Todo mundo se educa o tempo todo. As crianças estão nos educando também. A primeira coisa de que precisamos é não nos acharmos prontos, que estamos feitos e somos detentores do conhecimento”, diz. “No processo educativo, está rolando uma troca, uma simbiose, uma coisa coletiva, que o professor media, tentando incentivar que as coisas aconteçam espontaneamente. A aula é uma oportunidade para a erupção de criatividade, invenção e diversão. Isso é fundamental: a criança não perceber que está aprendendo”, define.
A musicalização, então, é o brincar de música. “São coisas gostosas de viver, brincar com o ouvido, usar a audição como recurso de movimento”, afirma, completando que esta liberdade é mais potente na educação infantil, quando as crianças podem descobrir com mais fruição. “Estamos vivendo um momento que tem limitações, mas sabemos que é passageiro e que vamos fazer novas coisas depois. Agora, precisamos esperar, mas quando pudermos voltar, vamos inventar muitas outras coisas”, conclui Gustavo.